quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Escolher treinadores pelos números

"Saído Jorge Jesus, quem para o seu lugar? À hora que escrevo, parece-me claro que o sucessor será Rui Vitória. Não é nome que me agrade, pelo contrário. Não tenho visto nas suas equipas uma ideia de jogo capaz de singrar num clube grande. Tenho visto sempre equipas que defendem num bloco recuado, que fazem da transição ofensiva o seu maior argumento ofensivo e, sobretudo isto, têm sido equipas sem grandes princípios e posicionamentos de posse e controlo de jogo.

O jogo entre o Vitória e Sporting a contar para esta última edição da Taça da Liga parece-me absolutamente paradigmático para ilustrar o que falo, isto é, nesse jogo o Sporting apresenta um 11 bastante alternativo e, não sei precisar os minutos, vê-se reduzido a 10 bastante cedo no jogo. Perante isto, o Vitória, sem embargo do natural domínio nos números da posse de bola, não foi capaz de criar uma única oportunidade clara de jogo, sendo que as suas tentativas de desmontar um adversário a defender em cima da sua área se resumiram a cruzamentos e mais cruzamentos, facilitando assim a vida à linha defensiva leonina. Se for isto o que Rui Vitória tiver de melhor para o Benfica… Não me parece suficiente. Não é menos verdade que o próprio, em entrevista à RTP durante a semana passada, afirmou que a sua ideia de jogo tem sido fortemente condicionada pela qualidade e características dos jogadores que vai podendo ter em Guimarães, sendo que, ainda segundo Rui Vitória, quando lhe fosse possível subir o nível de jogador que tivesse ao seu dispor, iria também apresentar uma ideia mais positiva e completa no seu jogo. Do que tenho visto em Guimarães, não vejo por onde, mas espero que sim.

Eu preferia seguir caminhos técnicos diferentes e que tenho por melhores. Caminhos que passassem por Marco Silva, Peseiro, Paulo Sousa, Paulo Fonseca ou Vítor Pereira (sobretudo este). Tudo treinadores de quem já vi muita qualidade de processos nas equipas que já conduziram e tudo treinadores com ideias claras e competentes para um futebol de equipa grande, independentemente da qualidade individual que têm ao dispor."

Escrevi o excerto atrás inserido no dia 4 de Junho, numa altura em que JJ já era dado como certo em Alvalade, ainda que não fosse oficial, e Rui Vitória na Luz.

Infelizmente, tudo o que escrevi sobre a contratação do nosso actual treinador, tem-se vindo a confirmar (para pior, não para melhor), levando-me a uma desilusão muito maior do que a perspectivava na altura.

Este é o problema de se contratar um treinador com base exclusiva nos resultados que obtém e não tendo em conta a forma como eles acontecem. Só assim fazia sentido achar que substituir JJ por Rui Vitória poderia dar bom resultado, com a agravante do primeiro ter saído para um rival directo.

Passados estes meses, continuo a achar que o grande problema não foi a saída de JJ, mas sim a escolha do seu sucessor. O plantel não é (já não o era) o melhor da liga, mas já mostrou ser superior ao que está a fazer. Analisando individualmente cada jogador, não há classe superlativa para lá de Gaitan e Jonas, é um facto, mas também não deixa de ser verdade que a qualidade dos comportamentos colectivos defensivos e ofensivos da equipa têm deixado demasiado a desejar. Criatividade individual é impossível de implementar e difícil de incrementar, mas organização e ideia colectiva é a missão primeira de um treinador, algo que o Benfica de Rui Vitória não tem, nem revela poder vir a ter.

Agora? Bom, agora parece-me evidente que Rui Vitória deve chegar ao final da época e, nessa altura, escolher com competência (há?) o novo treinador, pois escolher pela mudança antes disso poderá significar o "queimar" de quem venha a seguir, sem que haja essa necessidade.

10 comentários:

Miguel disse...

Nao me parece mal um teinador entrar a meio da epoca, da p construir processos p a epoca seguinte sem ter q comecar tudo de novo e sem a mma pressao... vide a primeira epoca de mou no fcp... mas eu esperava q a liga fosse primeiro as urtigas. Pelo andar da carruagem la p janeiro

Diogo Correia Carvalho disse...

Uma pessoa que diz que o Vítor Pereira seria uma boa escolha... E o que dizer de José Peseiro?! A sério?!

R.B. NorTør disse...

A questão do treinador até ao fim da época é o que se espera conseguir com isso.

Fica até ao fim só para fazer a gestão corrente? Ou seja, qualquer um é válido desde que escolha onze jogadores para cada jogo e debite umas frases feitas nas conferências de imprensa? Ou então, fica até ao fim porque há a possibilidade de com mais tempo de trabalho apresentar melhorias ao que foi feito?

Para sair agora também tem de se ver o que espera. Sai agora para entrar alguém que ainda permita atingir alguma coisa, quiçá ganhando títulos? Ou entra agora para ter direito a uma visão alargada do que é ser treinador do Maior e preparar convenientemente a próxima época?

A verdade é que neste momento, e ainda antes do jogo com o Braga, o Benfica não depende de si mesmo para ser campeão. Pode ser que depois de SCP e FCP jogarem um com o outro o Benfica tenha alguma independência nesse capítulo, mas a verdade é que neste momento não só dependemos de terceiros como não apresentamos futebol que nos convença que mesmo que esses terceiros nos ajudem, nós aproveitemos quando for tempo disso. Na Champions, a camapanha «brilhante» deve-se a um resultado inesperado, mais fruto da ocasião do que de um trabalho de nível superior. Pode ser que na fase a eliminar tenhamos a mesma sorte em vários jogos e ao arrepio da lógica somos Campeões Europeus. Pode ser, mas quantos de nós acreditam mesmo nisso?

Pessoalmente acho que Vitória falhou. Não falhou por perder três vezes com o Sporting, que isso são vicissitudes que só acontecem a quem lá anda. Falhou porque o futebol do Benfica não se distingue do praticado num jogo de solteiros e casados. Falhou porque essa falta de qualidade é sistemática, isto é, passados cinco meses a equipa apresenta os mesmo problemas, independentemente do adversário, independentemente do figurino com que se apresenta. Passados cinco meses não há a ilusão de o futebol do Benfica poder atingir o patamar do que é o Benfica. Pior, se o novo paradigma passa por promover talento da academia e potenciá-lo, Rui Vitória o que demonstrou é que nem consegue potenciar quem tem realmente talento (Samaris, Jonas e Gaitán parecem piores jogadores do que são, os centrais parece que desaprenderam de como jogar), e uma manifesta incapacidade em ensinar coisas aos mais novos (Guedes poderia ser falado como um jogador de top com um treinador que tivesse coisas para lhe ensinar, Semedo seria já a revelação do campeonato).

Nesse sentido, até pelo novo projecto do Benfica, é imperativo que se mude de treinador quanto antes. Se o título está complicado, o segundo lugar e consequente apuramento directo para a Champions (olha o aspecto financeiro e visibilidade para patrocínios) ainda não. Com as eliminatórias para a Taça da Liga dá para desenvolver a equipa em contexto de competição, com adversários acessíveis, e dá tempo para se preparar uma ronda a eliminar da Champions que não nos trará a glória europeia, mas talvez nos permita sair de cabeça erguida.

José Moreira disse...

R.B

Compreendo o que dizes e concordo. A equipa joga hoje como jogava nos EUA durante a pré-temporada. As melhorias não são mais que marginais.

A questão é: Imaginando um cenário de mudança, quem chegar (acreditando que se acerta desta vez) que tempo terá para trabalhar a equipa de modo a apresentar melhorias evidentes na qualidade de jogo e, por consequência, nos resultados? Sim, Klopp chegou há meia dúzia de dias e já melhorou muito do que havia em Liverpool, mas nem todos são Klopp nem o Benfica tem unidades tão subaproveitadas como tinham os reds.

O problema de se mudar agora será o de não haver tempo para melhorar de forma muito significativa e assim não alterar grandemente o nível de exibições e resultados, levando a forte desgaste do treinador, seja para os adeptos seja, sobretudo, para o plantel.

Quanto a mim, não vejo um futuro muito diferente do passado com Rui Vitória ao leme, porque o plantel, embora não seja nada do outro mundo, tem qualidade para mais que isto. O meu receio é que se crie o chavão de que o Benfica deixou de ganhar e de ter qualidade por ter apostado na formação, comprando ao Sporting da primeira década deste século. Não. O Benfica perdeu qualidade colectiva, não individual. Nelson Semedo, bem trabalhado, não deve a Maxi e o Guedes tem muito por onde crescer, assim haja qualidade de quem treina.

R.B. NorTør disse...

Há uma coisa incrível no Benfica neste momento. A malta que comenta e que pede um novo treinador fá-lo apresentando soluções e nessas soluções há nomes que se repetem à exaustão. Se pegassem num desses nomes (por ordem de sururu Bielsa, VPereira, Paco Jemez, Favre, Laudrup, Peseiro) não só dificilmente ficaríamos pior, mas, tal como o Liverpool ainda está longe de jogar bem, seria possível começar a ver melhorias no espaço de 4/5 semanas.

4/5 semanas com um treinador que sabe o que é o treino, que valoriza o treino, que tem coisas a ensinar, mesmo que os resultados não cheguem (Klopp nos Reds demorou 3 empates e uma vitória sofrida contra um clube do Championship para conseguir começar a demonstrar serviço daquele que entra pelos olhos adentro), é um tempo imenso. É o tempo que o Benfica tem até Janeiro, com Taça da Liga pelo meio. A Taça da Liga acaba por ser a pré-temporada que quem vier, se vier a tempo de a usar.

Também no calendário do campeonato, um treinador competente com a qualidade que o Benfica tem, e que concordamos está a ser sub-aproveitada, poderá passar por dores de crescimento, mas quando pensamos no que é a aleatoridade do futebol do Benfica neste momento, será que dores de crescimento não são preferíveis ao sofrimento terminal em que nos encontramos?

Ou seja, se encararmos o resto da época como uma pré-época alargada, não será útil trazer já alguém com competência?

Quanto ao Semedo e ao Guedes: Semedo antes de ir à selecção fazia com que a malta já nem se lembrasse bem de quem jogava ali antes. Com mais caparro e um treinador que lhe ensinasse a ler melhor o jogo, está ali um LD top; Guedes é, neste momento, melhor do que o melhor Sálvio do ano passado. Com um bom treinador, o Sálvio tinha de ser um novo Gaitán para voltar a calçar no Benfica. Sem um bom treinador, está condenado a fazer as tristes figuras que lhe encomendaram no final do jogo da Taça.

E já que falo nisso, que treinador que trabalha os jovens encomenda ao elemento mais novo do plantel aquele triste espectáculo do Guedes na flash? Não havia um Jardel, um Júlio César ou um Eliseu, homens feitos, sub-capitães alguns deles, para ir ali fazer aquela figura? Triste... A todos os níveis triste (mas se calhar isto é o que menos se pode imputar ao treinador).

José Moreira disse...

Essa da flash mais o triste episódio do atraso na conferencia de imprensa antes do jogo são coisas que duvido muito sejam da responsabilidade do Rui Vitória. Isso é coisa para o Gabriel e mentes que tais, não acho que passe pelo Rui Vitória esse tipo de decisões.

Voltando à mudança, temos dois planos: O que pode ser melhor e o que vai acontecer.

O que vai acontecer: Vieira vai segurar R. Vitória até ao limite, ou seja, a não ser que aconteça um cataclismo daqui até Janeiro, R. Vitória aguenta, pelo menos, até final da época. Porquê? Simples, no dia em que o Benfica dispensar R. Vitória, Vieira estará a assumir a derrota perante a saída de JJ e perante o próprio JJ. Se isso acontecer antes do final da época a derrota será absolutamente estrondosa, logo, aposto que isso só acontecerá quando não houver a mínima hipótese de manter o treinador.

O que seria melhor acontecer: Aqui continuo a achar que mudando agora, estaremos a correr um risco considerável de "queimar" um treinador, embora aceite perfeitamente os teus argumentos sobre a mudança e admito, sem problemas, que fazem todo o sentido, caso a coisa corra mesmo bem.

R.B. NorTør disse...

«Voltando à mudança, temos dois planos: O que pode ser melhor e o que vai acontecer.»

Nem precisei de ler mais! Infelizmente concordo.

Sim, o resto também acho que o RV é o que menos tem a ver com isso.

Antonio disse...

Concordo inteiramente comR.B. NorTor

mikebenfas disse...

comecei a ler e parei assim que li o nome do judas paulo sousa.... tenham dó, este blog acaba de bater no fundo e duvido que aqui volte tão cedo

fui disse...

3 hipóteses:
- acontecer o tal cataclismo até Janeiro, nesse caso só vejo um treinador disponível com qualidade - Laudrup
- Aguentarmos até ao final da época em sofrimento, o Vieira percebe que cometeu um erro e substitui o treinador. Nessa altura pode haver várias opções - Marco Silva, Paulo Sousa, Vitor Pereira, Laudrup, Paco Jemez, Leonardo Jardim, etc.
- A jogar mal (parece inevitável) conseguimos ter resultados suficientes (lutar pelo campeonato até às últimas jornadas, ganhar a Taça da Liga e chegar aos quartos na Champions). O Vieira deixa lá o Vitória mais um ano, o que pode acontecer até com resultados menos satisfatórios que o mencionado...

Uma última hipótese impossível - somos campeões com uma grande vaca e o Valencia ainda nos faz o favor de vir buscar o treinador!