sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Entrevista a Vítor Paneira - Primeira Parte

No dia em que o mágico Paneira se estreia como treinador principal de uma equipa da Primeira Divisão, recuperamos a primeira parte da entrevista que o craque deu ao Ontem há um ano e tal.

De que clube era em criança?
Benfica e Famalicão.

Como via um miúdo de Famalicão o Benfica? Achava possível ser profissional do clube no futuro?
O Benfica era uma meta quase impossível de atingir, mas sempre foi o meu sonho.

É verdade que, tendo prometido ficar mais um ano no Vizela, quando o Benfica o quis contratar pediu para ser emprestado de forma a cumprir a palavra que tinha dado aos dirigentes do seu antigo clube?
Sim, é verdade, mas também fazia parte do acordo entre os dois clubes.

Qual a sensação de jogar pela primeira vez na Luz representando o Benfica?
É uma sensação única, ficará recordada para sempre.

Como é ser campeão com a camisola do Benfica?
É um sentimento indescritível, não consigo encontrar palavras para descrever o que senti ao ver a alegria de milhões de Benfiquistas.

Voltaria a ser preso pelo Benfica? Conte-nos essa história da prisão; há muitos jovens benfiquistas que desconhecem o episódio.
Claro que sim, o meu sonho sempre foi jogar pelo Benfica, portanto, em qualquer circunstância voltaria a fazer o mesmo. A história é a seguinte: num Domingo em que tive jogo pelo Benfica (não me recordo de momento qual foi o jogo, mas lembro-me que foi longe) e, devido ao meu compromisso, não me apresentei à 1h00 no Quartel do Porto, só me apresentando no dia a seguir o que desencadeou um processo (o qual não entendi) que me levou a essa situação.

Na altura em que jogou no Benfica, os jogadores quando iam ao Porto tinham uma atitude diferente da que vemos actualmente: mais corajosa, com um espírito mais forte e vontade de vitória. A que se deve esta realidade de algum temor que hoje o Benfica transparece sempre que joga no Dragão?
Os tempos eram diferentes. No meu tempo, nós encarávamos os jogos como uma guerra. A equipa era essencialmente constituída por jogadores portugueses que sentiam muito mais a rivalidade entres os dois clubes daí a nossa entrega total, para nós não existia outro resultado a não ser a vitória ...

No Benfica-Juventus (2-1), depois de um dos golos foi festejar com os adeptos, junto à grade. Disseram-lhe alguma coisa específica?
A única coisa que me passou pela cabeça foi partilhar aquele momento de alegria com os adeptos. O que senti foi o calor e o carinho deles, as palavras naquela altura não eram importantes.

Melhor jogo de sempre pelo Benfica? O Benfica-Juventus, o Benfica-Parma, Leverkusen-Benfica, o Sporting-Benfica (3-6) ou outro?
Bayer Leverkusen-Benfica.

Treinavam muito a jogada que deu o terceiro golo em Alvalade no 3-6 ou saiu com algum improviso? 
Treinávamos, era uma das jogadas que nós trabalhávamos sempre e que surtiu efeito. 

Concorda que a última grande equipa do Benfica foi aquela que acabou em 1994? 
Sim, concordo.

Acha-se subavaliado? Ou seja: acha que, apesar de lhe reconhecerem qualidade, podia ter mais reconhecimento por ter sido, opinião pessoal, um jogador fabuloso?
Acho que não, os benfiquistas reconhecem que eu fui um dos Grandes do Benfica e por isso sinto-me muito grato. 

Quantos milhões de euros valeria o Vítor Paneira em 2013?
(risos) há 20 anos atrás já o Presidente do Benfica não me vendia por 1 milhão de contos (5 milhões de euros actuais). Hoje não sei ...

Sempre que tinha de recuar e jogar a lateral fazia-o com grande competência. Nos treinos procurava preparar-se defensivamente para o caso de ter de servir a equipa nessa posição?
Sempre fiz mais que uma posição e por isso estava sempre preparado para ajudar a equipa.

Quantas e quais sensações passou no Leverkusen-Benfica?
Imensas ... Foi um jogo único, que ficou na memória de todos os que participaram nele e em todos os Benfiquistas. Foi um dos jogos exemplo na Uefa.

Como foi jogar sob o comando de Artur Jorge, sabendo que estava a assistir à destruição de uma das melhores equipas de sempre do Glorioso?
São momentos que temos de recordar anos depois com alguma responsabilidade porque alertei o Presidente Manuel Damásio do que se estava a passar e o que se poderia passar nos anos seguintes.

O que sente um jogador que é dispensado do seu clube do coração aos 29 anos que, como viria a provar em Guimarães, ainda tinha muito para dar ao mais alto nível?
28, correcção. Para além de jogador era o meu clube por isso foi como parte de mim ter ficado ali, naquele dia.

Quando foi dispensado do Benfica, foi mesmo convidado pelo Sporting? Se sim, o que pesou na decisão de recusa? apenas o amor ao Benfica? Não poderia ter a tentação de assinar pelo maior rival para provar que ainda tinha muito a dar ao Benfica como, por exemplo, fez uns anos mais tarde, João Pinto?
Não só recusei o Sporting como também o Porto. A minha grande realização foi no Benfica como jogador e não fazia sentido jogar num dos rivais.

Mantém contacto com Artur Jorge?
Não, é impossível.

Que reacção teve à agressão de Sá Pinto ao antigo técnico e jogador do Benfica?
Achei despropositada e sem sentido (nunca o faria ).

Estabelecendo um paralelismo com o final desta época, o que sente um jogador depois de perder uma final europeia?
É a vontade de desaparecer e ficar isolado durante muito tempo.

O que sente ao ver o Estádio da Luz vazio numa noite europeia?
Uma mágoa muito grande. Em qualquer jogo, no meu tempo, teríamos no mínimo 60, 70, 80 mil pessoas.

Enquanto jogador recusou ir para o Sporting. E agora, enquanto treinador? Aceitaria?
São outros tempos. Possivelmente.

Enquanto esteve no clube, teve 3 Presidentes: João Santos, Jorge de Brito e Damásio. Com que opinião ficou dos 3?
3 grandes presidentes, especialmente João Santos e Jorge de Brito, mas sendo Presidentes do Benfica serão sempre os meus Presidentes.

Quais os cinco melhores jogadores com quem jogou? E o melhor treinador?
Ricardo Gomes, Manuel Bento, Rui Costa, João Pinto e Magnusson. Toni e Eriksson.

Como analisa as já recorrentes reacções menos polidas do capitão Luisão (encontrão ao árbitro, insultos aos adeptos), tendo em conta que é o capitão do Benfica?
Como capitão às vezes temos reacções para defender o grupo que por vezes os adeptos não compreendem. 

O que acha de o Presidente ter dito que não podia ser avaliado pelos resultados desportivos?
Houve um trabalho extra-desportivo de grande mérito do actual Presidente. Desportivamente tem proporcionado bons plantéis aos seus treinadores.

Acha que a actual estrutura dirigente do Benfica "despreza" bastante algumas das suas grandes estrelas do passado, onde se inclui o Vítor?
Comigo em particular têm sido correctos.

Acha-se com capacidades para chegar a treinador do Benfica?
Sim, claro. se fui jogador também posso ser treinador. 

A mística benfiquista perdeu-se definitivamente ou está apenas adormecida?
Apenas adormecida, a mística nunca se perde.

1 comentário:

Borrego das Cartas disse...

Grande Paneira!

Um dos meus ídolos de infância e adolescência.

Lembro-me de, certo dia, ir comprar a bola (naquele tempo ainda era um bom jornal), e ver que o Paneira tinha sido dispensado. Lembro-me de ter ficado uns bons minutos com o coração a bater forte, incrédulo com a notícia.