quarta-feira, 13 de maio de 2015

Ser Benfiquista

Num destes dias, algures pelo Facebook, vi um video da página do Benfica em que perguntavam a um cantor conhecido o porquê dele ser Benfiquista. Ele respondeu algo do género “Porque gosto de vitórias” ou algo semelhante (perdoem-me já não saber ao certo as suas palavras mas o conceito era este).

Esta questão pôs-me a pensar no porquê de eu Ser Benfiquista.

No meu caso pelo menos, acho que não teve nada a ver com vitórias, até porque apesar de muito me orgulhar da história do nosso Benfica, tenho que admitir que sou de uma geração que infelizmente se tornou em adolescente ou jovem adulto na fase de maior declinio do clube.

Assim sendo, porque um miúdo se tornava Benfiquista naqueles tempos em que não seria certamente para festejar muitos títulos?

Tentando lembrar-me da minha infância e do momento em que me tornei Benfiquista, obviamente não consigo precisar um momento especifico, mas hei-de lembrar-me sempre do momento em que o meu pai me levou à Luz pela primeira vez.

Já deveria ter uns 10 anos e para dizer a verdade, até entrar no estádio já estava feliz por passar o dia com o meu Pai, a passear em Lisboa e a comer uns pastéis de nata. A ansiedade não era grande, em total oposição à que sinto hoje à espera de Domingo.

Mas então chegou o momento, dirigi-mo-nos para o estádio e vi aquele Monstro de Betão pela primeira vez. Feio e Lindo, parecia inacabado mas perfeito. 120.000 pessoas cabiam lá dentro. Mas por mais que soubesse esse numero, qual a criança de 10 anos que consegue imaginar o que se sente no meio de 120.000 pessoas???

À medida que andávamos na sua direcção, o monstro crescia e crescia, e mais e mais pessoas  se juntavam a nós. Aí sim, aí começou a crescer a minha ansiedade. Aquele miúdo de 10 anos apertava cada vez com mais força a mão ao Pai. E o monstro não parava de crescer à medida que o meu coração batia mais e mais rápido.

Lá dentro eu não acreditava no que via, tanta gente, tanto amor, tanta loucura. Fomos para o nosso lugar naquele começo de noite fria e eu já tinha começado a tremer. Não de frio, porque lá dentro estava mais calor que lá fora, tremia apenas inexplicavelmente. Inicialmente apenas um pouco e depois cada vez mais.

As equipa começaram a entrar em campo e toda a gente gritava. “Benfica, Benfica, Benfica...”. Rolos de Papel eram atirado para o relvado e Rapazes Sem Nome, Diabos Vermelhos ou apenas Benfiquistas tinham tochas na mão a fazer um fumo e uma Luz vermelha que fazia daquele lugar o Inferno. Toda a gente batia com os pés no chão e o estádio tremia debaixo de mim. “Benfica, Benfica, Benfica...”. E eu tremia descontroladamente, de Medo, de Respeito, de nervosismo. E naquele momento o meu pai colocou o braço sobre os meus ombros e olhou para mim e sorriu. Não sei o que ele pensou, mas na minha cabeça foi como se dissesse “Calma meu filho, isto somos Nós, Isto é o Benfica”. E eu continuei a tremer até hoje, de Paixão.


Acho que é desde esse dia que sou verdadeiramente e inequivocamente do Benfica. Porque sim. Porque não há outro. Pelo Monstro, pelo Inferno, pelos 120 mil daquela noite em que comecei a tremer pela primeira vez. Sou do Benfica porque tenho na alma aquela Chama Imensa.

5 comentários:

ultraslb disse...

Excelente texto que demonstra verdadeiramente o que é o Benfica!!!
Mas para mim será sempre um amor que, por muito que tente, não se consegue explicar!!

Isaías disse...

Caro Campaniço,

«(...) ninguém escolhe o Benfica, é o Benfica quem te escolhe para seres um de nós»

Forte abraço Benfiquista,
Isaías

Zé do Telhado disse...

Tal como tu também eu vivi toda a minha adolescência na pior fase do nosso clube. No entanto, toda a paixão e amor pelo Benfica foi-me transmitido pelo meu avô, ele contava-me inúmeras histórias do Glorioso e de tudo o que o Benfica representava para Portugal, um país à altura atrasado, sem confiança, sem outros motivos de orgulho, só o Benfica (e a Amália) é que orgulhava, não só os benfiquistas mas os portugueses em geral, ao contrário do que a maioria pensa.

Com ele aprendi o que era ser desportista também, porque ele falava tão bem da grande equipa dos anos 60 do Glorioso, como falava bem da equipa dos "5 violinos", em que dizia: "eles eram melhores, não tinhamos hipóteses". Por isso é que eu sei, que até aos anos 80 e com a entrada em cena da consporcação do futebol português por parte destas personagens que ainda aqui gravitam, o futebol era vivido de maneira pura, com rivalidade e picardia, mas com respeito e desportivismo.

Agora é o lixo que se sabe...

Rafa88 disse...

Que grande texto, estou arrepiado ate agora, continua o bom trabalho abraço

Anónimo disse...

no caso de um fctripeiro, a resposta é fácil: "bia o meu pai com duores no cu cada bez q o benfica ganhava, e parece q é hereditário"